A bacia leiteira da região de Cerejeiras vive uma das maiores crises da história. Com queda na produção ano após ano, a situação afeta em cheio as indústrias lácteas. Algumas ações tentam encontrar uma saída.
O município de Cerejeiras chegou a produzir uma média de 250 mil litros de leite por dia. Atualmente não chega a 60 mil litros, segundo estimativas dos laticínios da região.
A atividade leiteira chegou à região de Cerejeiras na década de 1980, logo após o início da colonização do município, que começou por volta de 1975.
Com uma variedade de produtores distribuídos em pequenas propriedades, o leite proporcionou a abertura de dois laticínios em Cerejeiras, o Sempre Bom e o Multi Bom.
O leite é, talvez, a única atividade rural que gera uma renda mensal. Ao contrário da lavoura ou da pecuária de corte, que é cíclica, a atividade leiteira é perene e ininterrupta.
Além disso, o leite não exige grandes faixas de terra para produzir. É uma atividade que pode ser exercida tanto nas grandes como nas pequenas propriedades. Diferentemente da agricultura, que requer áreas planas, a pecuária leiteira pode ser praticada em áreas montanhosas.
Apesar do litro do produto ter um histórico de preço baixo, o leite é viável. A atividade gera lucro, quando é exercida com certo profissionalismo, por assim dizer, como o investimento em nutrição, genética e manejo.
Sobre a rentabilidade, um produtor que tira 100 litros de leite diários terá uma renda mensal de R$ 6 mil. Para isso, ele precisa de dez vacas, num espaço de até dez hectares. Neste exemplo, não estamos falando de uma pecuária leiteira muito evoluída. O cálculo aqui é feito em cima de uma atividade de avanço técnico e tecnológico médio.
Mesmo assim, o leite vive esse momento delicado na região.
Recentemente, por exemplo, um dos laticínios, o Multi Bom, fechou as portas no município, entrando em Recuperação Judicial. O outro laticínio, o Sempre Bom, encontra dificuldades de operar por conta da diminuição do leite disponível na região.
“Um caminhão precisa rodar até 17 quilômetros para captar 30 litros de leite”, diz José Wilson Mascarenhas, proprietário do laticínio Sempre Bom. E complementa: “Isso é inviável para o nosso negócio”.
Existem muitas razões para a queda da atividade leiteira na região de Cerejeiras. Dentre os motivos apontados estão o envelhecimento dos pequenos produtores rurais, cujos filhos não se interessam pela atividade, o êxodo rural, que atraíram pequenos produtores para novas fronteiras agrícolas, e o simples abandono da atividade, motivada em períodos de baixa do preço do produto, em que os produtores migraram para outras atividades, como a agricultura e a pecuária de corte.
Apesar de esta reportagem focar no município de Cerejeiras, convém destacar que essa é uma realidade regional, que ocorre também em municípios como Colorado, Corumbiara e Cabixi.
Algumas alternativas, porém, tentam resgatar a atividade.
O governo estadual tem investido em ações, como o programa Balde Cheio.
A Emater tem realizado dias de campo destinados à atividade. Dois desses eventos foram realizados em 2022.
Concursos leiteiros também são realizados na região, como o último, realizado neste ano pela Emater em Colorado do Oeste.
O Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Rondônia (Ifro) realizou pesquisas de BRS Capim-Açu em parceria com o Centro de Pesquisa Agropecuária (CPA) num campo experimental em Cerejeiras. O capim é usado na atividade leiteira.
A maior iniciativa, porém, não chegou a ser concluída. A Sicoob Credisul, numa parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais de Cerejeiras, em 2021, incentivou a criação de uma cooperativa de leite a partir da planta industrial do Multi Bom, cuja propriedade foi entregue à cooperativa financeira como garantia de crédito. A lentidão do processo de Recuperação Judicial e outros entraves jurídicos, porém, não proporcionaram um ambiente propício para a nova cooperativa, que não chegou a sair do papel.
Enquanto não se acha uma saída, a atividade leiteira continua vivendo dias sem perspectivas na região de Cerejeiras.
Todas as propostas e alternativas são elogiáveis, mas a atividade leiteira só começará a ser destaque na região de Cerejeiras quando o produtor rural, especialmente os pequenos proprietários, enxergarem no leite o que ele realmente é: uma atividade rentável.
A outra saída talvez seria que os produtores de grãos investissem na verticalização da produção, criando plantéis de produção de leite nas propriedades, aproveitando os subprodutos da soja e do milho como alimento para a produção leiteira. O agricultor, que já é profissionalizado na agricultura, poderia usar esse talento e experiência na atividade leiteira.
Mas a melhor saída, sem dúvida, é o aumento da produtividade. Se houver dez produtores produzindo 700 litros de leite cada um, então já teremos 7 mil litros diários.
Seja como for, a saída para a crise do leite é olhar para o segmento não como um setor em crise, mas como uma atividade viável e rentável.