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Censo 2022: dúvidas, questionamentos e equívocos dos dados sobre Cerejeiras

Foi no ano de 2013 que o então vereador Antônio Augusto, conhecido como Augusto da Idaron, começou uma tremenda batalha.

A luta do parlamentar foi tentar provar para o IBGE que o instituto tinha cometido um erro e que o equívoco estava prejudicando o município de Cerejeiras.

O erro consistia em atribuir a Colorado do Oeste seis propriedades rurais que pertenciam ao município cerejeirense.

Esses lotes de terra, porém, eram ocupados, onde viviam seis famílias. Com isso, esses moradores foram registrados como habitantes de Colorado.

Após uma tremenda batalha, com idas e vindas ao escritório do IBGE em Porto Velho e Brasília, o vereador conseguiu convencer o órgão a corrigir o erro. Assim, o município de Cerejeiras garantiu o repasse de R$ 300 mil mensais adicionais que seriam retirados com os moradores atribuídos a outra jurisdição municipal.

Agora, dez anos depois, o município de Cerejeiras se vê envolvido numa batalha semelhante.

No dia 31 de dezembro do ano passado, o IBGE divulgou uma prévia do Censo 2022 em que afirma que o município conta com apenas 15.237 habitantes.

Este número, no entanto, está aquém da realidade. E o poder público municipal está munido de dados para provar isso.

Por exemplo, o número de matrículas subiu nas escolas municipais. Muitas famílias vieram de fora para trabalhar em Cerejeiras e isso elevou a demanda por vagas no ensino básico e nas creches. Em 2019, foram realizadas 1.539 matrículas na rede municipal de ensino. Já em 2022 foram 1.591 e em 2023, 1.623 matriculados. A escola Maria Helena Barreiros, para dar um exemplo, está construindo mais duas salas para atender a demanda de alunos no ano letivo de 2023. Na rede estadual de ensino, o salto foi de 1.772 estudantes em 2020 para 1.825 em 2022 e 1.819 em 2023.

Outro exemplo são os dados colhidos pelos agentes de saúde, o tipo de profissional que realmente vai em todos os lares. Segundo as fichas que eles fizeram de cada cidadão de Cerejeiras, o município conta com mais de 17 mil habitantes.

Além dessas, há outras evidências de que o município de Cerejeiras tem mais moradores que os apontados pelo IBGE.

Uma delas é no campo eleitoral. No ano de 2008, segundo o Fórum Eleitoral, o município tinha 12.238 eleitores que não eram identificados com biometria. Em 2022, o eleitorado apto era de 12.919 pessoas, todas identificadas biometricamente. No ano 2004, votaram nas eleições municipais 10.219 pessoas, enquanto que em 2022 compareceram para votar 10.410 pessoas. Estes dados evidenciam que não houve redução ou estagnação da população, lembrando que pessoas abaixo de 16 anos não são eleitores.

Normalmente a relação entre número de eleitores e a população era de cerca de 65%, mas com a redução do tamanho das famílias, observada  principalmente em regiões e cidades de maior poder aquisitivo, esta relação passou a ser de aproximadamente 70 a 75 %. Deste modo, considerando o eleitorado atual de Cerejeiras, na pior da hipóteses, a população seria no mínimo de 16.700 habitantes, podendo chegar tranquilamente a 18 mil pessoas.  Um ponto que não pode ser ignorado é que, ao contrário do censo, o eleitorado hoje é identificado com biometria, o que elimina margem de equívocos, deste modo, não existe dúvida de que mais de 12.600 pessoas são aptas a votar, sendo que não se pode esquecer que muitas ainda permanecem com os títulos de suas terras natais, outros não se preocupam em transferir.

A esse contingente deve ser somado o número de crianças, e adolescentes, pois pelos números a quantidade de eleitores de idade entre 16 e 18 anos em Cerejeiras é bem inexpressiva.

Outro exemplo é que em 2016 a população urbana, segundo o IBGE, era de 16 mil pessoas. Qualquer imagem comparativa da cidade entre aquele ano e a atual deixa evidente o aumento do número de construções, o adensamento habitacional e a expansão urbana, com a ocupação de espaços antes vazios, inclusive com a formação de loteamentos e extensão de bairros.

O pouco tempo de treinamento dos contratados para o recenseamento, a grande evasão dos recenseadores, a falta de número suficientes de coletores de dados contribuíram para a falha na coleta das informações.

Ainda outro exemplo é a relação entre nascimento e óbitos. Nasceram mais pessoas do que morreram no município em 2022 – exatamente o ano em que foi feito o Censo. Foram registrados 256 nascimentos e 129 mortes no ano em Cerejeiras nesse período.

Para finalizar com um terceiro exemplo, a alta demanda por imóveis para aluguel demonstra que mais pessoas vieram morar em Cerejeiras. Quem mora no município sabe da excessiva procura por casas e quitinetes para alugar. Há informações de que a demanda pela locação de imóveis supera os 30% dos já locados.

Diante de todas essas evidências, o que pode ter levado o IBGE a errar no Censo 2022?

A resposta que até agora parece mais evidente é que os recenseadores contratados pelo instituto não entrevistaram a totalidade da população do município.

Há inúmeros relatos de cerejeirenses que afirmam que não receberam a visita dos recenseadores.

A reportagem do NOTÍCIAS DE CEREJEIRAS conversou com diversas pessoas que afirmam que não foram entrevistadas. Há entre esses relatos gente de todos os perfis sociais, como produtores rurais, comerciantes e trabalhadores da iniciativa privada.

No trabalho de coleta de dados para o censo, muitos setores foram visitados de modo pontual, sem o indispensável retorno para as residências quando não localizados os moradores, o que fatalmente interfere no resultado da amostra.

O efeito mais nocivo do erro do IBGE é a queda no repasse do Fundo de Participação do Municípios (FPM), verba mensal que o governo federal envia para as cidades. Até 85% da arrecadação municipal é composta por este convênio. Em 2022, por exemplo, o município de Cerejeiras teve uma receita total de R$ 92 milhões, sendo que mais de R$ 70 milhões foram provenientes do FPM.

Segundo técnicos da prefeitura, o município poderá perder R$ 3 milhões por ano caso os dados do Censo não sejam corrigidos.

A luta para corrigir este erro e reparar os dados é grande. Mas, como o município já ganhou esta batalha uma vez, poderá ganhar de novo. Até porque a quantidade da população local determina o montante de verba necessário para atender as necessidades desse contingente populacional. E para isso é fundamental que os dados habitacionais estejam corretos.

rildo
rildohttps://noticiasdecerejeiras.com.br
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2 COMENTÁRIOS

  1. Muitas pessoas para criticar o trabalho e poucas para disponibilizar ajuda e quando disponibilizam já praticamente no final da coleta, recenseadores, supervisores deram sangue nesse censo, é muito fácil criticar, apontar erros, quando na verdade ninguém tem a coragem que eles tiveram de ir de casa em casa no sol quente e as vezes na chuva, muitas vezes mal recebidos. E muitos desse comerciantes citados , alguns mesmos se recusaram de responder ao ibge.

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